De um certo modo, o universo é do tamanho do entendimento que temos dele. Peraí, o começo ficou um pouco complicado. Vamos ver se o exemplo ajuda: Na maioria das vezes, se um sujeito nunca ouviu falar do Quirdistão do Sul e em como seus habitantes apreciam beber vinho, dançar e cantar só de ceroulas com seus gatos nos quintais de suas casas nas noites de lua minguante, isso não afeta muito a sua vida - a menos que ele tenha um vizinho sul-quirdistonense, é claro - e o mundo é como se estrangeiros seminus dançando bêbados nunca tivessem existido. Quanto mais sabemos sobre o mundo, maior ele fica. Assim, o mundo era menor na Idade Média quase tanto quanto o era antes do celular e do Kazaa.
Imaginem um pobre coitado camponês, desdentado, pai de oito filhos, quatro mortos, servo do vassalo do conde do duque do senhor feudal de um reino que viria a ser a Albânia recebendo a visita de um senhor vestindo Armani que o avisa que há mais no mundo do que sua vã ignorância suspeita:
- Hein?
- Oráculo. É assim que se chama. Todo o conhecimento do mundo reunido em um só lugar e com uma interface fácil de usar. É só fazer uma pergunta e ele dá a resposta exata.
- Ele diz aonde foi parar o Eustácio?
- Quem?
- Meu cachorro. Ele foi atrás de um coelho na floresta e...
- Ah, sim. Provavelmente.
Imaginem a cara de embasbacado dele. Por onde ele começa? Quanto ele é capaz de assimilar? O que ele vai fazer com tanta informação? E, principalmente, o que, por todos os santos, ele está fazendo na seção de cerveja?
É mais ou menos assim que eu me sinto quando entro na internet. Caramba, eu tenho o mundo nas minhas mãos! Posso achar aquele solo do Benny Goodman que eu sempre quis ouvir, fazer cursos online de photoshop e quark, mandar um email pra Madonna, analisar fac-símiles de hieróglifos egípcios, conseguir um bom acervo musical, uma boa biblioteca, pegar filmes (ops!), ler um tratado sobre as qualidades nutricionais da minhoca, qualquer coisa que amplie o meu mundo, que me faça descobrir que há muito mais por aí do que eu imaginava. Por exemplo, acabo de descobrir que, na Malásia, um grupo de assaltantes interceptou um carro-forte de uma forma, digamos, original: jogando curry em pó nos olhos dos seguranças. Puxa, meu mundo era bem menor antes dessa informação, quando esse valioso tempero só tinha propósitos malignos quando algum cozinheiro vingativo carregava a mão em alguma receita. Vou sair de casa de olho em algum porta-tempero suspeito preso à cintura do próximo que passar por mim.
Esse mundo cada vez maior que se mostra pra gente precisa de um manual à altura.
Claro que há de se levar em conta que pelo menos um pedacinho daquele oráculo é constituído da sabedoria do próprio camponês, mesmo que seja a da seção de cerveja. Cá está esta crônica.
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