15 novembro 2005

Mil Quilômetros




Em outro post eu falei em como o Google Earth colocou em perspectiva o meu mundo. Pois bem, dia desses, brincando com a ferramenta que mede distâncias do programa, descobri algo que me colocou mesmo no meu lugar. Depois de achar o extremo oposto da terra em relação ao lugar onde nasci (um ponto no mar, ao sul do japão) e de sair medindo nerdisticamente tudo quanto é canto, resolvi descobrir o quanto eu conheço de fato do mundo. Medi os extremos do mundo que já visitei e descobri que a maior distância não passa de mil quilômetros. Sim, patéticos mil quilômetros, entre Camboriú, que visitei em 2000, e o Pico da Bandeira, em 2002.
Eu era o pior dos caipiras, que nunca pisara fora do próprio quintal em 23 anos de vida. Todo o conhecimento que tenho do mundo além dessa barreira foi adquirido "por tabela". Na prática, eu sabia empiricamente quase tanto quanto algum camponês da idade média, por exemplo.
A diferença é que eu não me sinto, nem nunca me senti alienado assim. Com 3 anos de idade eu já sabia que a Itália tinha o formato de uma bota. Com 8, eu sabia como funcionava a cadeia alimentar nas planícies da África de tanto ver programas educativos na Cultura. Hoje eu sei diferenciar e imitar um sotaque escocês ou australiano sem nem mesmo ter conhecido gente de lá.
Extendendo o assunto, provavelmente conheço a alma humana mais por ter lido Dostoiévsky e visto Antes do Amanhecer do que por ter vivido revéses na minha própria vida. Isso é triste e difícil de admitir. Não que minha vida tenha sido exatamente tediosa, ou que eu não tenha querido aprender nada com ela, talvez seja a quantidade de informação "formal" que sufoque os pequenos aprendizados práticos do dia-a-dia.
Li (ou vi, o meio é irrelevante) em algum lugar uma pesquisa que comparava a eficácia da mente em registrar informação aprendida na teoria e na prática. Como era de se esperar, vivenciar qualquer coisa fica muitas e muitas vezes mais bem registrado na memória do que apenas ler sobre o assunto.
Quero crer que ainda vou ter chances de fixar melhor o que tenho absorvido de segunda mão. Viver os dilemas de um Raskolnikov, ou mesmo de um personagem de Magnólia, tirar minhas próprias conclusões de outros povos e de si mesmos como o casal de Lost In Translation, ou quem sabe só aprender a aproveitar mais a rotina que tenho, mesmo que a barreira dos mil quilômetros não seja quebrada tão cedo.

Um comentário:

Anônimo disse...

S. Donato
Hj e um dia pacato aqui nos EUA. A maior parte dos adultos n trabalha pq e o 1 dia de aula dos seus filhos. Sim, acredite, isto acontece aqui! E como uma especie de feriado. Entao, resolvi ler alguma coisa em portugues p me distrair. Entrei no seu blog. E veio bem a calhar o seu texto dos 1000Km. Ultrapassei os 1000Km...mas na atual conjuntura, sinto tanta falta do meu quintal, q faria tudo p retornar aos 1000km. Nao ha lugar como nosso lar! - isto e verdade - lembra-se: Magico de Oz! Nao e preciso viajar p abrir a cabeca, hj entendo isto. Embora esta seja o modo mais facil p faze-lo.
um abraco!