Indubitavelmente.
Foi o que ela ouviu do companheiro de tantos anos, assim, sem razão. Porque indubitavelmente não era uma palavra para todos os dias, nem para todos os usos. Podia ter sido um sim, claro, sem dúvida, é, com certeza, é lógico, aham, como não, positivo, isso mesmo, todos seguidos de ponto final, ou um ou mais pontos de exclamação enfatizando, desconfiando ou simplesmente exclamando, mas por que indubitavelmente?? Nem era uma palavra bonita. Era um tanto arrogante, mas decidida e elegante. Algo parecido com o Al Pacino de mau humor. E, é claro, é uma palavra que não deixa dúvidas. Igual ao Al Pacino. A não ser desta vez.
O que ele quis dizer com aquilo? Que ele era melhor do que ela? Que, na verdade, a pergunta dela não tivesse assim tanta importância? Que todos aqueles anos juntos nos quais a palavra indubitavelmente nunca fora mencionada e as coisas estiveram tão como sempre estiveram, no fundo não foram suficientes? Era isso, ele iria trocar seu relacionamento por um advérbio?
Talvez não. Talvez fosse quase isso. Talvez as coisas estarem tão como sempre estiveram fosse um problema a ser combatido. Indubitavelmente iria abrir as portas para Transubstanciação e Verossimilhança, e um novo mundo polissílabo de compreensão e amabilidade iria aflorar entre eles.
Foi o que aconteceu. Ela aprendeu a conviver com o indubitavelmente. Gostou, tanto que hoje em dia se recusa a usar menos de 3 sílabas por palavra. Mesmo que a pergunta que tenha iniciado tudo isso tenha sido um breve "você me ama?"
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