Me chamem de purista, mas se tem uma coisa com a qual tenho aquela relação de amor e ódio é com as traduções. Livros, filmes, as vezes até músicas (não, eu não estou falando daqueles folhetos do Fisk) ficam meio capengas se a gente não entende o que eles estão falando, sabe. Com o inglês, tudo bem, já faz tempo que as legendas só servem pra me assegurar se estou ouvindo direito, mas da última vez que eu soube o Bush ainda não tinha decretado o idioma de shakespeare como língua oficial da humanidade.
Essa facilidade não existe ao assistir Adeus Lenin ou ao ler Crime e Castigo. Ali, sou 100% dependente de uma terceira pessoa (não eu, não o autor) para entender a obra. E eu me apego. Acredito em cada sílaba. É quase como se, hoje, ao me encontrar com o tradutor do velho Dosta, formado aqui na FFLCH, eu lhe cumprimentasse ansiosamente, "Como vai São Petesburgo? E o trabalho escravo na Sibéria, influenciou muito o senhor na sua obra?"
Ao mesmo tempo, se a expectativa foi maior que o resultado da leitura, sempre pode-se apelar pra um "Ah, a tradução é que foi uma droga", ou "O autor tem uma linguagem única, intraduzível. Tente traduzir Guimarães Rosa pra você ver." O que muitas vezes é verdade. Cada idioma é único e blá, blá, blá, e a solução seria virar poliglota. Ou mais, afinal, pra se entender completamente a linguagem de um povo, deve-se viver com ele, de preferência desde a infância, ter seu caráter influenciado por um estilo de vida. Ou seja, pra assimilar direito a produção cultural mundial a gente precisa nascer muitas vezes. Ou se contentar com o "filtro" de uma Monica Pessegueiro do Amaral.
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