Em 2002, Rafael Scalco, estudante de Jundiaí, foi aprovado e recomendado para o trabalho missionário e finalmente designado para servir no Rio de Janeiro. Matthew Singer, estudante da maior cidade do estado de Montana, EUA (bem menor que Jundiaí), também.
Lá pelo fim do primeiro ano de trabalho, os dois são transferidos para a mesma casa, lá em Freguesia, bairro carioca bem interessante (mais interessante ainda com a Cidade de Deus nos calcanhares).
Certa noite, num dos poucos momentos em que dá pra relaxar depois do dia cansativo, ao olhar as relíquias que compõem a mesa de Scalco, Singer vê uma daquelas fotos de família que todo missionário carrega pra não se esquecer de quem é. Na foto, entre outras pessoas, uma garota se destaca: cabelos pretos, olhos claros, pele branca e sorriso largo. Linda. Singer tem a reação mais esperada de um missionário: "Scalco! Quem é essa daqui??" "É a minha prima", o outro responde com um sorriso no canto da boca. "Bonita, né? Ela tá sem namorado, quer escrever pra ela?" Singer pensa um segundo, man, she's hot! But she's brazilian, I'll never meet her. So what, it's just a letter. The worst thing she can do is not to write me back. Man, she's hot... e responde "Claro!"
Ontem eu estava em Jundiaí e tudo estava nos conformes: Noivo nervoso, sem saber exatamente o que iria acontecer na cerimônia levemente diferente da americana. Noiva atrasada, o que deixava o noivo mais nervoso. Noiva feliz no vestido de cauda longa. Noiva mais bonita que qualquer convidada. Noivos felizes, com alianças e beijo sem-cerimônia.
Na festa que se seguiu, Singer comenta com Scalco: "Se você tivesse feito alguma besteira e não tivesse ido pra missão, você teria estragado o meu futuro!"
Se Scalco não tivesse ido pra missão, se não tivesse sido mandado pro Rio, se não fosse pra Freguesia, ou até se aquela foto da prima saísse um pouco tremida e ele resolvesse não levar foto nenhuma consigo, Singer nunca conheceria Rebecca. Ele voltaria para Montana, se casaria por lá, teria filhos ruivinhos e sardentos e talvez viesse passear no Brasil de vez em quando. Rebecca, quem sabe, se casaria com um paulista, nunca aprenderia inglês e perderia a chance de ter filhos ruivinhos e sardentos.
Preste atenção em todas as suas escolhas. De repente, até o cocô do cachorro que você pisou ontem pode contribuir para mudar o destino da humanidade. Isso sem falar no cachorro, no que o cachorro comeu, daonde veio a comida, do fazendeiro que plantou...
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