11 junho 2004

Deste lado da rua

Contrariando meus hábitos normais e correndo o risco de ser precipitado (como o Veríssimo disse que diria Borges,
Nossas vidas seriam mais suportáveis se as pudéssemos viver só depois da terceira revisão.
), comento um filme antes de digeri-lo, assim, ainda com a química do filme no sangue, ainda com o cheiro de pipoca no nariz e a música na memória.
Talvez isso seja bom, pois O Outro Lado Da Rua, do Marcos Bernstein, deixa impressões de vários sentimentos que podem evaporar após uma noite de sono. Mérito dos atores, sem dúvida, Fernanda Montenegro e Raul Cortez (que depois do avô libanês com trejeitos do meu avô de Lavoura Arcaica virou meu ator brasileiro preferido) "transpiram" os personagens, seguram firme nos muitos closes do diretor, e fazem uma cena de sexo na 3a idade honestíssima, sem música, só com os barulhos de beijos, roupas e respiração que são constrangedores quando não se está "no clima". A cena não é melhor nem pior que a do Alguém Tem Que Ceder, embora seja bem diferente. Mérito também do diretor e da produção, que fizeram uma história enxuta e sincera, filmada com sensibilidade e sem exageros. Eles também não caem na tentação de mostrar a praia de Copacabana mais de uma vez, viva!
Policial (claramente inspirado em Janela Indiscreta, mas sem cair no clichê), romance, drama e até comédia, o filme pode não ser grande, mas é bom. Bom porque aperta alguns botões na alma que ficam totalmente intocados em O Dia Depois de Amanhã, por exemplo.

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