Em 1993 eu me preocupava em virar gente (afinal, estava na 5a série) e em zerar o maior número de vezes seguidas o Mario (13 foi meu recorde. Maldita queda de energia!) no meu Nintendinho 8-bits.
Então aconteceu o assalto. Tínhamos viajado quando levaram tudo de casa (felizmente meu Nintendinho estava comigo), inclusive a tv. A TV! O manancial infinito de informação e entretenimento! O que eu iria fazer da vida?
Uma tia nos emprestou um radinho durante uns 3 meses destelevisionados. Eu passei a ouvir algumas rádios da cidade o dia inteiro e um novo mundo se abriu. Até então, meu conhecimento musical se resumia a Roxette e à coleção de LPs dos meus pais, constituida, na maior parte, de álbuns menores de gente maior como Ray Charles, Paul McCartney e Chico Buarque. Nada muito sério, ou nada que me despertasse muita atenção. Mas agora eu tinha ao meu alcance pérolas como Pump Up The Jam e Everybody Dance Now!. Poucas coisas sobreviveram (ainda bem!), como Mr. Jones do Counting Crows e What´s Going On do For Non Blondies. Obrigado, ladrões, sem vocês eu não teria conhecido o Vanilla Ice.
Nos anos seguintes, um grande amigo vindo de sampa me apresentou a Jovem Pan, o programa Pânico, e toda a coleção de Dance Music do mundo. Foram 4 anos de plagiadores inexpressivos como Double You e Wighfield na orelha, ao ponto de eu ouvir na tv um trechinho de Wonderwall e dizer, "ei, esses caras copiaram a música daquela mina do cd da Jovem Pan!"
Aos 16, mais amizades me apresentaram ao Bon Jovi, Aerosmith e Guns N´Roses. Todo mundo tem que começar por algum lugar, mesmo que seja por Always.
Ao mesmo tempo, com outros amigos, conheci o Heavy Metal do Metallica, o que me fez vender por uma ninharia todos os meus cds toscos. No Heavy Metal eu fiquei por um bom tempo, até um dia, quando varria as folhas do quintal e prestei atenção nos versos de uma música dos Beatles que meu pai estava ouvindo. As partes que me atingiram foram "sitting on a cornflake / waiting for the van to come" e "Elementary penguin singing Hare Krishna / Man, you should have seen them kicking Edgar Allan Poe". Tinha alguma coisa séria ali. Era mais interessante do que qualquer coisa que eu ouvia.
Por acaso, no cursinho, um amigo tinha um amigo que estava vendendo uns 30 cds. Peguei a lista e vi vários dos Beatles, vários do Pink Floyd, vários do Led Zeppelin, entre outras preciosidades. Curioso como estava com o rock clássico, levei uns 8. Até hoje eu me pergunto o que deu na cabeça desse sujeito. Seja lá o que tenha sido, agradeço todas as noites.
O caminho óbvio, então, era descobrir as referências de músicos tão bons. Blues! Com mais alguns amigos, virei frequentador dos escassos shows bluezeiros de Araraquara.
Então veio a ECA. Ah, a ECA... ela não me fez trocar o Led Zeppelin (até porque, lá toca bastante) por nada, mas me apresentou a coisas tão diferentes quanto Chico Science, Weezer e Dave Matthews. Certos amigos me apresentavam o Funk Como Le Gusta, outros analisavam Queen, e outros viajavam com Charlie Parker. E eu levava um pedaço de cada amigo pra loja de discos, cruzando referências, caçando as minhas próprias pérolas.
Hoje, se me perguntam que tipo de música eu gosto, respondo exatamente com a frase que eu detestava ouvir de pessoas que escutam música por inércia: "Eu? Sou bastante eclético."
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