O papel da família é transmitir a herança da humanidade para o indivíduo, para que ele possa se inserir na sociedade e colaborar para ampliar aquela mesma herança. Mais ainda: treina-lo para administrar os estímulos internos e externos que vão fazer com que o menininho seja feliz para o resto de sua vida. Para ajudar os pais nessa tarefa tão ambiciosa, apareceu uma instituição chamada escola. Lá, junto com outras dezenas de coleguinhas, nosso menininho vai ser bombardeado com informação, e, de quebra, vai ter os benefícios de um convívio social numa micro-sociedade, um campo de testes onde acontecem os piores conflitos e dilemas existenciais imagináveis, que tem seu clímax na chamada hora do recreio. Se nosso menininho for mal na absorção e capacidade de análise da informação, ele tem a chance de reaprender tudo outra vez através do popular recurso da repetência, também conhecido como “levar bomba”. Agora, se ele não tiver desenvoltura suficiente para se dar bem também naquele micro-cosmo social, que pena, não há muito a ser feito. Afinal, não há avaliação para isso. Piora se nosso menininho não demonstra sua frustração e ninguém (nem seus pais, que estão longe) nota o problema.
O menininho chega em casa, cansado da companhia opressiva dos seus colegas e procura quem lhe dê a atenção e os cuidados merecidos, alguém que não fale dele, mas para ele, alguém que lhe distraia das confusões da vida, sua amiga, a televisão. Lá ele aprende como todos gostam dele, estão sempre sorrindo, sempre falando com ele, com todo o carinho e respeito que ele merece, além de ter sempre um desenho legal passando. Aquilo sim é que é vida, todas aquelas cores, aqueles brinquedos que se mexem e que não quebram como os dele, brinquedos grandões e bem feitos, não feiosos como os que estão em seu quarto. Ah, se ele pudesse viver lá dentro, junto com tanta gente legal, tanta coisa pra ver... Ele pediria à mãe para leva-lo ali, mas ela ainda não chegou do trabalho. Alem disso, ela sempre está cansada. Tudo bem, já vai começar outro desenho.
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