...E existem as bandas grandes e as bandas legais. Simples assim. Quer ver? O Pink Floyd é uma banda grande. Enorme, aliás. O Pearl Jam também. São bandas que fazem música que entra pra história, bandas que podem ser ouvidas pela qualidade técnica, pela sonoridade, pelas letras. São bandas que tem seus bateristas e guitarristas (e, mais raramente, alguns baixistas também) imitados ad infinitum não só por outras bandas, mas por garotos de 15 anos loucos por uma identidade e uma influência, que descobrem o instrumento justamente por causa dessas bandas. São bandas que conseguem unir carisma, técnica e sucesso comercial. Bandas raras, portanto.
Do outro lado, mas ainda no País da Boa Música, estão as bandas legais. São bandas completamente inacessíveis a quem não passou pelas bandas grandes, ainda que seu som seja tecnicamente inferior. São bandas como The Flaming Lips, Primal Scream e Teenage Fanclub. Bandas que, mesmo com um um som grudento, simples e de letras engraçadinhas'barra'românticas, acabam ganhando fãs no real sentido da palavra, fanáticos, seguidores mais devotos que os que vestem camisetas pretas adornadas com cabeludos mal encarados do metal pesado.
Mas por que, afinal, pra gostar de Yo La Tengo é necessário ter o ouvido acostumado com Beatles e afins?
Porque as bandas legais só são legais por um motivo: elas reciclam (ou digerem, como queiram) várias pequenas inovações que as grandes bandas fizeram e acrescentam um pouco de cotidiano, de conversa mole, de dilemas que já foram resolvidos.
Aliás, o que é a nossa vida além da repetição de dilemas previamente resolvidos por outras pessoas em outras épocas? Chegamos uns após outros invocando os mesmos problemas, encontrando as mesmas soluções. Vez por outra, uma combinação sai excêntrica demais, e algo realmente novo surge, como um riff de Jumpin´Jack Flash. Claro que isso não nos impede de ter uma vida única e inovadora, pois mesmo Mozart ou Spielberg tiveram seus momentos de serem pegos cutucando o nariz ou de terem que escolher entre decepcionar alguém e decepcionar a si mesmos. E isso na maior parte do tempo.
Ouvir bandas legais é como ler uma crônica. É como assistir a um episódio de Anos Incríveis ou ler uma tirinha do Calvin. É se olhar no espelho, mesmo que não seja muito profundamente, sentir pela primeira vez aqueles mesmos sentimentos que todo mundo já sentiu antes. E gostar.
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