04 julho 2005

Guerra dos Mundos

Da série Diários de Missão no Rio, em 4 de Julho de 2003:
Passar o 4 de julho numa casa com três americanos republicanos não é pra qualquer um. Bandeirinhas abundam, e a ânsia por fogos de artifício só é (mal) confortada pelos rojões constantes dos traficantes do Complexo do Alemão. Felizmente, o dia transcorreu tranquilo, ninguém teve rompantes ufanistas-patrióticos. E isso é um avanço. Não que eu seja contra os EUA, pois não sou. Seria como ser contra o automóvel, por exemplo. Polui, mata, mas também traz muitos benefícios. Nem por isso eu cantaria o Hino do Automóvel no dia de sua invenção...

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Acho que não tenho idade suficiente pra entender a vantagem do patriotismo. Basicamente, ser patriota é ter orgulho e do lugar de onde se vem, certo? E defendê-lo sempre que necessário, certo? Gostar dos seus. Isso cheira demais a segregação pro meu gosto. Por que eu tenho que torcer pra um cidadão que eu nunca vi mais azul na minha frente? Vou usar um exemplo mais extremo: o carinha que foi preso na Indonésia com quilos e quilos de droga e agora foi condenado a morte. O que nos une? O fato de comermos arroz e feijão todos os dias? Termos nascido numa mesma região com o mesmo clima? Falarmos a mesma língua? Assistirmos à Globo?
Tenho muito mais afinidade com um finlandês que leu Edgar Allan Poe na adolescência ou com um marroquino que gosta de fotografia digital do que com qualquer jogador da seleção brasileira.
Saber quem você é, descobrir suas origens e aprofundar as relações com as pessoas mais próximas são alguns dos bons resultados do patriotismo. Acontece que há caminhos muito melhores, que evitam passar pelo "sou brasileiro e não desisto nunca".
Como se governa uma área geográfica com milhões de pessoas que tem pontos de vista às vezes completamente diferentes de como se devem administrar as coisas? Um povo não deveria pensar, pelo menos em alguns pontos essenciais, da mesma forma? Se não pensa, ainda é um povo?
Só não consigo imaginar uma olimpíada sem fronteiras. Já toquei no assunto aqui. As modelos ganhariam provas que exigissem leveza. Os devotos de Nossa Senhora ganhariam medalhas em provas de resistência. Marxistas levariam provas coletivas. E os canhotos? ganhariam o quê?

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