13 julho 2004

o não-post

Pegando carona nas borgianas do Cacofonias e Desafinos, cá vem minha contribuição para a cãibra cerebral nossa de cada dia.
Todos os dias, 144 bilhões de horas (24 pra cada um) são disponibilizadas pra gente aqui debaixo se mexer, resolver os problemas, produzir (pra garantir as próximas 144 bilhões de horas), enfim, pra gente progredir. Alguns desses bilhões são gastos todos os dias do mesmo jeito, dormindo, comendo, escovando os dentes, ficando preso no maldito engarrafamento, etc. Mas ainda sobra um bocado que a gente simplesmente joga fora.
Pra onde vai todo esse tempo, todas essas possibilidades? Haverá mesmo um jardim dos caminhos que se bifurcam? Será que lá está o livro que eu não escrevi nas infinitas horas de ócio não-criativo? Ou o carro que não comprei com o dinheiro que não economizei dos lanches e revistas de videogame? Quem sabe até a família que não tive por não ter cumprimentado aquela garota na rua? E meus irmãos, incontáveis filhos de meus milhares de pais potenciais (Seria você um deles?)? Ao invés de postar aqui nesse blog, eu poderia estar ordenhando vacas no Iêmem, fazendo terapia em Nova Iorque ou voando no meu carro movido a ondas cerebrais que alguém inventou no seu tempo livre. Quem sabe já estaria morto, envenenado por aquela bactéria que, em outra realidade, foi exterminada centenas de anos antes.
Da próxima vez que eu me deitar e fizer a triste constatação, "puxa, hoje eu não fiz NADA de útil" vou me lembrar que estou colaborando com o desperdício de idéias e realizações mundiais. Dois segundos depois, vai me ocorrer que também estou colaborando pela preservação da humanidade, já que não terei usado meu tempo pra construir nenhum tipo de arma de aniquilação em massa. E vou dormir tranquilo.

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