16 agosto 2005

The Next Generation

Os anos oitenta foram terríveis. Imagine um dia em 1986. Você acorda com seu rádio relógio, uma caixa preta com números verdes brilhantes, tocando Tears for Fears, e isso já é motivo suficiente pra pular da janela. Com um tapa no enorme botão snooze, você volta a dormir, só pra ser acordado dez minutos depois pela Cindy Lauper. Você pensaria em pôr uma bala na cabeça, mas você não é gótico, aquela gente estranha da qual você só ouve falar.
Você resolve encarar o novo dia e se levanta. A margarina do seu pão é de má qualidade, igual ao seu xampu e ao seu carro, mas você nem percebe, a falta de oferta desestimula a demanda.
Se você for mulher, meus pêsames, você dormiu mal tentando não estragar o permanente do cabelo, vai ter que usar batom vermelho, brincos de argola do diâmetro de pulseiras, calça acima do umbigo e, pasme, blusa com ombreiras. Sim, ombreiras.
Se você for homem, sua sorte não é menos sombria. Basta dizer que seu modelo de beleza é algo que inclua o bigode do Magnum e o mullet do McGyver.
Reagan e Thatcher massacraram tudo que foi sonhado nos anos 60 e 70, deixaram que os irmãos caçulas dos hippies, de terno e gravata, tomassem conta do mundo. A involução foi tão séria que O Bebê de Rosemary virou Freddy Krueger, Todos os Homens do Presidente virou Rambo e Laranja Mecânica virou Porky's.
Encrustrado nesse império, um pequeno vilarejo (que poderia estar na Gália) sobreviveu e se fortaleceu. Se fortaleceu baseado em alguns fatores: Apesar da má-qualidade geral da produção cultural, os quadrinhos viraram coisa séria, com graphic novels que exploraram psicologia e política, como Watchmen e Dark Knight.
O Heavy Metal teve sua era de ouro, incorporando elementos da música erudita e ficando realmente ensurdecedor.
O RPG se consolidou, aproveitando elementos do recém criado universo cyberpunk e resgatando a obra de Tolkien, cultuada pelos hippies e por George Lucas.
Surgiram os Videogames e os computadores começaram a se tornar pequenos o bastante pra caber numa mesa.
Todos esses elementos contribuiram para a criação daquele que é o símbolo da resistência oitentista:


o nerd - aqui representado pelo traço do nerd supremo, Matt Groening.
A gestação de uma geração de nerds começou no fim dos anos 70, é verdade, mas foi no final dos 80 que eles ganharam voz ativa na sociedade. Gente como Bill Gates e Steve Jobs abriu a possibilidade de ser nerd e rico ao mesmo tempo, um feito absolutamente impensável até então. Matt Groening e Kevin Smith foram além: bem-sucedidos, divulgaram o estilo nerd como "legal" em suas obras, expondo a sociedade a níveis perigosos de piadinhas por segundo, e sempre dando um jeito de encaixar alguma referência a Star Wars.
A internet amplificou o alcance de nerdisse exponencialmente. No início, apenas nerds sabiam fazer home pages, assim o usuário comum ia se contaminando com listas de discussão sobre o Monty Python, salas de chat de trekkies e páginas e mais páginas de passwords e truques de video games.
Mesmo com toda essa divulgação, a raça está fadada ao extermínio. A falta de atividades físicas e de traquejo social torna os nerds seres pouco desejáveis para o sexo oposto. Uma pena que isso não aconteça com integrantes de boy bands, que insistem em espalhar perigosamente seus genes pelo mundo.

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